- É sem “h”,
- Pois é, o meu também – e ela sorri.
E os olhos dele se focam daquele jeito de quem sabe que desta vez é pra valer, de que as coisas só acontecem assim uma vez na vida. Que o mundo inteiro poderia parar naqueles minutos.
Ele sabe que não é sempre que a gente aprende a conviver tanto com alguém ao ponto de procurar o olhar em cada instante, de procurar o cheiro, de dividir coisas que não devem ser ditas. É mais ou menos como encontrar uma moeda no meio dos paralelepípedos: você nunca espera encontrar, por mais que vire seus olhos para o chão. Elas sempre aparecem do nada. Bem do nada mesmo, ele pensa.
Naquele passar ínfimo, que dura o exato momento de um piscar dela, ele se lembra da primeira vez que a viu, da primeira vez que chamou seu nome, da primeira surpresa boa que teve ao seu respeito, da primeira vez que se pegou pensando nela, do primeiro abraço, da primeira vez que sentou ao seu lado e tocou com o braço o braço dela.
É no passar de tempo que dura um suspiro que ele tenta tomar a coragem suficiente pra dizer que vai sentir saudade – e que se pudesse, a levaria pra bem longe de todos.
Mas o momento passa.
- É, eu sei. Nada de “h” pra nós dois.