O seu cheiro continuava o mesmo, seus olhos com o mesmo brilho. Seu sorriso nunca me pareceu tão lindo e sua pele estava macia, com aquelas sardas pequeninhas e quase imperceptíveis que eu tanto gosto.
Mas seu cabelo estava diferente - mais curto e mais cacheado. Como um anjo.
E sua posição também não era a mesma dessa nossa vida real.
A gente estava junto e era só isso que importava.
Nem as escadas, nem os manequins, nem as paredes enormes de vidro que nos mantinham presos numa bolha no meio da terra seca. Nada disso tinha valor nenhum pra nós dois.
E eu estava feliz como jamais estivera.
Você estava feliz como jamais estivera.
E o cheiro doce que rodeava aquele lugar era tão reconhecível que não me parecia mais um sonho, mas sim uma lembrança.
E então eu acordei.
E o único cheiro que eu sentia era o meu perfume, e a única lembrança real que eu tinha era de um mês de dezembro sem adeus, e de um ônibus lotado por estranhos.