quinta-feira, 12 de março de 2009

Tuas mãos

- São as tuas mãos
-Como?
- É. Você me pediu do que eu mais gostava. São as tuas mãos.
Ele riu. E com o riso, veio o suspiro.
- Tanta coisa legal pra você gostar em mim e decide ser logo as mãos o que mais gosta?
Ela olhou para o céu.
- Sei lá... Eu poderia dizer que são dos olhos, ou do riso, ou quem sabe do seu jeito. Mas não estou com vontade de mentir.
- Que bom.
- O quê?
- Que você gosta das mãos.
- Ah. É, eu também acho.
Ele revirou os olhos.
- Por quê?
- Por que o quê?
- Por que você gosta das mãos?
Então ela parou e pensou. Não eram mãos especiais, disso ela tinha certeza. Ele tinha dedos compridos e finos, e as unhas curtinhas e pequenas. A pele da mão era toda marcada e tinhas alguns pêlos clarinhos e finos soltos. Os sulcos sobre as articulações, pensou ela, parecem pequenos vales de terra maltratada. Era uma mão comum.
Não era exatamente das mão que ela gostava, mas do que elas representavam. Eram com aquelas mãos que ele segurava suas próprias nos piores momentos; eram com aquelas mãos que ele prometia coisas sem nexo. Mas principalmente, eram aquelas mãos que davam vida ao acordeão velho e riscado que ele sempre tinha por perto. Ele conseguia dar vida aquele objeto com o simples dedilhar.
E ela gostava da música que ele fazia.
- De verdade? Não sei.
Então eles deixaram pra lá, enquanto o silêncio se encostava devagar.

_____
O tocador de acordeão.

3 comentários:

Anônimo disse...

:) Como já deve ter imaginado:
adorei!!!
"-Por que você gosta das mãos?"
"E ela gostava da música que ela fazia."
Pra mim, são mágicas,
fascinantes...

Laís disse...

Pra mim, mãos são muito significativas, por n motivos. Talvez seja o que mais me chame a atenção nas pessoas. Belo texto, Sam.

*.* Dessa *.* disse...

é dificil escolher do que mais gostar....