terça-feira, 9 de outubro de 2007

Dissonância

Os pés avançaram pelas calçadas numa velocidade própria. Direito. Esquerdo. Leves foram as batidas que eles pronunciaram no chão. Como palavras silenciadas em um momento de euforia.
E o céu? Diria que a luz emitida pelo Sol não conseguiu produzir seu efeito mais devastador, e tudo continuou levemente esbranquiçado. A claridade que venceu aquelas barreiras de vapor pintou o dia de delírio.
.UMA COR.
amarelo
E o espírito seguiu a vontade que nascia de algum lugar onde o interno se funde com o externo. Sem palavras. Não havia nada para ser dito. Nada de importante conseguiu se formar na ponta da língua. Os lábios foram os carcereiros dos murmúrios e das frases desconexas. Tão rosados como deveriam ser.
No coração da cidade estavam estendidas as barracas. Velhos hábitos. Novos motivos.

.UMA SENSAÇÃO.
confusão

E todas as máscaras se misturaram. Deus & Ciência expostos sobre uma mesma lâmina de madeira forrada. Verdades prontas para serem destruídas. Conceitos prontos para serem abalados. Mas os pés continuaram, a despeito de qualquer pedido dos olhos e da atenção. Eles seguiram pelas pedras disformes, como se já soubessem onde queriam chegar.

.UMA PALAVRA.
destino

E tudo se fez de dúvidas quando eles pararam. As mãos seguiram o impulso inconsciente de tomar aquelas folhas nas mãos. Não como o personagem descrito entre mil e um adjetivos na orelha da capa, mas como uma curiosa. A menina não roubou o livro naquela tarde. Pagou por ele com uma palavra dúbia.

.UMA HESITAÇÃO.
vale à pena?

O dinheiro foi entregue e os pés continuaram seu percurso até um banco. Descansaram mais um pouco, enquanto milhares de palavras se formavam na mente. Entre elas o arrependimento.
Livro e vontade se fitaram por um momento. Uma queda-de-braço. Um sorriso brotou entre os lábios e a vontade se calou. Quem ganhou? Os dois.
As mãos apertaram o livro com mais força.

.UMA CERTEZA.
ela não ia se arrepender

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