sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Contos de Natal

Do caos

Sexta-feira, 10:15 da noite.
A despeito do horário, os últimos raios de sol ainda brilhavam no horizonte. Mas eu não via nada, porque estava ajudando Papy a fazer as malas. Ele ia viajar.
Okay. Ninguém me disse que as roupas deveriam ser separadas por tecido, nem que cuecas brancas são explicitamente proibidas quando se viaja pra um lugar em que as palavras pescar-rio-possibilidade se misturem.
Ninguém me disse, também, que todos resolveram dar camisetas de presente pra ele. Resultado: um sorriso enviesado e alguns resmungos sobre "acho que eu 'tava precisando mesmo".

Da despedida.

O almoço do sábado não me fez muito bem. Ou isso, ou aquele calor estava quase literalmente de matar.
Mas é sempre assim: festa de Natal sem pessoas cozinhando, não é festa.
Papy resolveu ir viajar ainda no sábado depois do almoço.
- Volta quando?
- Quando Deus quiser.
Tudo bem, ele nunca foi muito objetivo mesmo pra responder (a não ser que a pergunta envolva dinheiro, presentes ou carro).
Abraço e algumas lágrimas que eu resolvi esconder. Tenho que ser forte, claro. Escutei o carro sair e fiquei pensando enquanto fingia ler.

Da monotonia.

A cidade estava vazia. Pelo menos pelas ruas que resolvi andar, não havia muitas vivas-almas pra me fazer companhia.
Domingo com cara de dia nenhum.
Nunca consegui explicar direito, mas os dias nas últimas semanas do ano sempre me pareceram perdidos no vácuo. Não se parecem com nenhum outro dia do ano. Segundas sem jeito de segundas e sextas com cara de nada.
Acho que o tempo resolve se cobrar da correria do ano todo e resolve deixar as pessoas maluquinhas. Não adianta muito você saber que dia é, se simplesmente não consegue encontrar nada parecido nas demais folhinhas do calendário.
E é tudo tão calmo... Só as luzinhas piscando.

Da ceia.

Nunca gostei muito de ceias de Natal. Comer à meia-noite não é o que eu chamo de preferência na minha vida. Mas já que estava tudo estranho mesmo, não custava se empanturrar ao som dos fogos.
Mas desta vez, nada de peru.
Mamy resolveu que não valia a pena assar um peru só pra ela, já que não como e a Sistá disse que não ia compactuar com a morte de mais um peru.
Hipócrita, esta guria.
O que fazer, então?
Levanto a mão em frenesi: uma ceia totalmente vegetariana.
Mamy revira os olhos e a Sistá suspira.
- Má idéia, guria.
Tuuuudo bem. Quem tiver uma solução melhor, que diga. No fim, se deram por vencidas e eu consegui minha ceia vegetariana.
Arroz com legumes, abacaxi assado com canela, calda de cereja, pepinos em compota, torta, pêssegos em calda e salada de cenouras com castanhas e nozes.
Delícia.
Sem contar o champanhe. Nada de cidra obtida de brinde. Neste ano foi champanhe mesmo. E suco de abacaxi que eu mesma fiz.
Feliz Natal, ecoaram nossas vozes e o tim-tim das taças de cristais.

Dos presentes.

Roupas, roupas e... roupas. Pelo menos dos presentes abertos logo depois da meia-noite sob o meu pinheirinho imaginário.
Gostava da época em que os pacotes eram menores, mas o conteúdo me agradava mais.
Da Sistá, o presente foi especial: um Jingle Bell ao som do violão.
Da próxima vez eu escondo aquele instrumento de tortura. Mas, como dizem, valeu a intenção.

Dos espíritos de Natal.

Sem dúvida nenhuma, nós três estávamos parecendo almas penadas no escuro quando tentávamos olhar pela janela algum dos fogos de artifício.

Saldo.

Manhã do dia 25.
Cabeça girando, estômago queimando e o cabelo grudando.
Olheiras enormes e uma alergia ao cheiro de canela.
Sorrisos bobos e os presentes sendo usados. Mamy ocupada com o almoço (irch) e Sistá de mal-humor.
Yeah! Natal é isso aí!

2 comentários:

O Profeta disse...

Olhos abertos de espanto
A esperança renovada
Há um novo ano que anuncia
Os passos da felicidade na sua chegada

E porque gosto de ti
Companheira de viagem
Que a minha companhia
Não seja uma miragem

E porque tocaste o profeta
Com a delicadeza da tua terna mão
No abrir das minhas portas
Ilumino teu coração


Um mágico 2008


Um beijo da luz

Laís disse...

Humm, legais seus contos de Natal... Nunca comi uma ceia vegetariana, talvez em 2008! Não sei se eu é que estou envelhecendo muito rápido ou se as coisas estão mudando muito rápido, mas os natais, para mim, ficam cada ano menos com cara de Natal. É um sentimento tão estranho que não consigo falar dele direito!

De qualquer forma, um ótimo 2008 para você, moça! Que este espaço continue florescendo a cada dia!