Sim, eu ouvi as palavras do vento. Sussurradas numa língua que nunca consegui entender, me pareceram frias demais.
Sim, eu ouvi as palavras vindas da terra. Rugidas com lentidão, me pareceram rígidas demais.
Sim, eu ouvi as palavras dançantes do fogo. Gritadas num tom áspero, me pareceram impiedosas demais.
Sim, eu ouvi as palavras melancólicas da água. Suspiradas num ritmo contínuo, me pareceram tristes demais.
Sim, eu ouvi as palavras das pessoas. Que confusão! Suas vozes se misturavam, se perdiam, se destoavam. O barulho delas sempre me pareceu blasfemo demais.
Mas, perceba! Agora não há mais sons. Não há nada. Ouvi, então, o silêncio do meu coração.
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Imagem: Ancient Sound, Abstract on Black - Paul Klee